Estudantes fazem releitura das obras de Van Gogh
EDUCAÇÃO
Fotos: Valéria Faleiros
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A oficina de pintura tem duração de três meses e conta com a participação de 23 estudantes |
Valéria Faleiros Fernandes
Estudantes da Escola Estadual Doutor Tancredo de Almeida Neves, em Passos-MG, participam de oficina de pintura promovida na disciplina de Arte que tem como objetivo fazer uma releitura das obras do pintor Vincente Van Gogh. Cerca de 30 telas estão sendo preparadas por 23 estudantes do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e Ensino Médio para exposição na Casa da Cultura.
A oficina de pintura faz parte do projeto “Educação e Família” e foi iniciada em agosto com previsão de encerramento em outubro. Durante três meses, os participantes devem trabalhar na produção das telas inspiradas nas obras do artista plástico que é considerado o maior expoente do pós-impressionismo. Van Gogh também é reconhecido por usar técnica de pintura própria com pinceladas firmes, carregadas e por trazer muito do seu aspecto emocional para as telas.
Para formação do grupo, a escola realizou uma seleção entre os alunos
interessados, identificando quem tinha habilidade
para desenho e pintura, já que o projeto é voltado para o aperfeiçoamento do dom para as artes plásticas. De acordo com a
coordenadora da oficina, a professora Ana Paula Faleiros, a atividade representa “um
sonho que saiu do papel para as telas”.
Ana
Paula tem a parceria do professor
Felipe Amaral na execução dos trabalhos. Segundo ela, serão pintadas 30 telas dando oportunidade para que todos os alunos mostrem seus talentos. “A oficina de pintura trabalha
as múltiplas inteligências, promove a inclusão e o trabalho colaborativo. O projeto envolve os educandos como um todo,
aprimorando as funções cognitivas, de linguagem, emocionais, relacionamento
interpessoal e atuando inclusive para a melhora dos transtornos de aprendizagem”,
completou.
Ana Paula explicou ainda que o dom para a pintura é considerado um tipo de inteligência. "Hoje a educação trabalha para explorar as áreas que o aluno é bom, para o desenvolvimento das múltiplas inteligências. Muitas vezes, o aluno não se destaca em disciplinas como Português e Matemática, mas tem grande potencial para a pintura", completou a coordenadora mostrando a grandeza do projeto para a descoberta de potenciais até então não explorados nos educandos.
Outro aspecto importante diz respeito à inclusão, alunos diagnosticados com autismo também integram a oficina e aperfeiçoam suas habilidades na pintura. "É
muito interessante porque é
um trabalho em equipe. É bonito de ver o companheirismo entre os meninos. Quem é bom
para o desenho, começa a obra. Já outro
aluno segue pintando. Às vezes, um não
consegue fazer um detalhe e o outro vai e ajuda. Tudo funciona numa grande parceria”,
relatou Ana Paula se mostrando encantada com os resultados da atividade.
A participação no projeto está valendo nota em Arte e pontos de participação em outras disciplinas. “A interdisciplinaridade agrega muito uma vez
que a oficina trabalha o lado cognitivo, interpretativo e emocional do estudante. Os participantes têm oportunidade
de perceber como a arte está presente no
dia a dia, além de gerar uma bagagem de conhecimentos que eles
carregarão para o resto da vida”, completou a professora.
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Projeto prevê o aperfeiçoamento das habilidades que os alunos já têm para a pintura |
Por
que Van Gogh?
A
escolha do artista Vincent Van Gogh como tema da oficina foi uma decisão dos docentes
que foi abraçada com muito entusiasmo pelos estudantes. Conforme Ana Paula, fazer a releitura de uma tela do
artista é um grande desafio pelo grau de dificuldade que as obras apresentam.
“As pinturas de Van Gogh são
extremamente complexas e suas pinceladas não têm regras específicas. Ele foge
muito do tradicional, usava até facas e estiletes para fazer as pinceladas, não
é uma coisa convencional”, disse.
A oficina conta com aprendizagens teóricas e práticas, mas antes de seguirem para as pinceladas nas telas, os estudantes realizaram pesquisa sobre a vida, história, obras do pintor, processo essencial para o amadurecimento da ideia sobre o projeto a ser executado.
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Recurso Federal
O projeto conta com incentivo financeiro por parte do governo federal para a compra dos materiais como tintas, telas, pincéis e outros. De acordo com a diretora Fernanda Vilela Alves Faria, este ano, a Escola Estadual Tancredo de Almeida Neves foi a única instituição da Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Passos contemplada com a verba.
“Damos muito valor para os conteúdos aplicados dentro e fora das salas de aulas, sempre
peço para aos professores para irem além dos conteúdos programados”, comentou a diretora argumentando
que por meio desta prática a instituição tem descoberto estudantes com talento para diversas áreas: pintura, arte cênica, música, entre
outras.
Já a professora Ana Paula destacou o trabalho em equipe, esforço e dedicação de todos os envolvidos. “Estamos na terceira edição do projeto. A primeira oficina ocorreu em 2018 e trabalhou o tema Tarsila do Amaral. A segunda foi em 2019 com uma releitura de Cândido Portinari. E todos os anos corremos atrás para garantir a oficina, elaboramos o projeto, apresentamos para o órgão competente para conseguir a aprovação”.
As telas produzidas, um total de 77, se tornaram parte do patrimônio da escola e estão espalhadas por todos os departamentos. Inclusive, uma delas foi doada pela instituição e se encontra exposta no Museu de Portinari, na cidade de Brodowski/SP.
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Primeira tela finalizada pelos estudantes apresenta o rosto de Van Gogh |
Estudantes falam sobre a participação no projeto
Gabriela
Rita de Cássia Oliveira, 17 anos, aluna do 3º colegial, fez releitura da obra “Terraço do Café à Noite”. A
estudante se encantou pelo trabalho de Van Gogh e resolveu testar as suas habilidades
nesta pintura. “O que eu achei mais difícil na hora de pintar essa tela foram os
detalhezinhos, Van Gogh tem umas pinceladas muito diferentes das minhas”, contou
a jovem que apesar de considerar o processo desafiador, garantiu que sentimentos
como alegria, paz e tranquilidade também foram amplamente vivenciados durante
as duas semanas que se dedicou à
pintura.
“Sou uma pessoa muito perfeccionista e quando
entrei para o projeto resolvi que eu iria mudar esse meu jeito, que eu ia apenas pintar, mas sem ficar me
preocupando com a perfeição. Esse trabalho está sendo muito importante pra mim porque estou conseguindo controlar esse meu jeito, estou muito feliz em participar da oficina, nem vejo as horas passando quando estou aqui”.
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A estudante Gabriela Oliveira, de 17 anos, se concentra para a finalização da sua tela |
Kauã
Augusto de Souza Reis, 14 anos, aluno do 9º ano, disse que as pinceladas de Van Gogh, a forma como ele trabalha com espirais, foram os detalhes
que mais lhe chamaram a atenção. Na hora de escolher o que iria pintar, optou
por “A Noite Estrelada” e “A Igreja
de Auvers”. “Escolhi fazer a releitura dessas obras porque gostei bastante e pelo grau dificuldade que
elas apresentam. Nessas telas, encontramos muitas cores, elementos e as emoções de Van
Gogh”, falou Kauã completando que ficou muito feliz com o resultado
do trabalho.
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