O amor em vários ângulos




Por: Valéria Faleiros Fernandes

 

        Neste 12 de junho, quando se comemora o Dia dos Namorados,   o Blog Linhas das Gerais encarou o desafio de abordar o tema "Amor" sob  vários pontos de vista  com a ajuda de profissionais de áreas  diversas como Filosofia, Nutrição,  Música, Biologia e Química. Mas antes de mergulharmos mais fundo nesse assunto, é preciso entender que: explicar o amor é uma tarefa bastante complexa justamente pelas inúmeras formas, reações, comportamentos, emoções que esse sentimento apresenta e pode despertar em cada indivíduo.  

        Pelo poema de Luís Vaz de Camões temos uma noção da dificuldade  que é decifrar o amor em sua essência. “O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que doí e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer”. Já o sociólogo Zygmunt Bauman, no livro  “Modernidade Líquida”, afirma  que o amor, os relacionamentos, tornaram-se ainda mais fluidos na sociedade moderna em virtude da  praticidade que vida impõe. Bauman  defende que ao mesmo tempo que o homem moderno quer se relacionar, ele recusa compromisso sério e cobranças. Quer estar com alguém, mas não quer a responsabilidade  de uma relação amorosa.

 

MÚSICA

                                                                                             Foto: Arquivo Pessoal


Para Lô Vieira estar no palco é escolher semear o amor

        Com base nesse contexto, seguimos com o primeiro entrevistado, Marlon Vieira, o Lô Vieira,  que é  cantor,  compositor  e publicitário, mora na cidade de São Sebastião do Paraíso e considera o amor  uma forma de compreender  o mundo.  Associando o sentimento  com a música, ele destaca que o amor representa uma obra.

        “Para viver a arte  é preciso muito mais do que lápis e caneta, muito mais do que a voz e uma guitarra elétrica,  ideias e ideologias, é preciso o amor. Estar no palco é escolher semear amor em cada canto, em cada tom. Viver de música é entender uma missão, é doar ao universo toda poesia. É viver vendendo flores, é encontrar em cada espinho, em cada pedra uma nova oportunidade de evoluir”.

 

FILOSOFIA

                                                                                       Crédito: Arquivo Pessoal


Pastor Valdinei aprecia a ideia de que o amor leva o ser humano à perfeição

        Já no campo da Filosofia, o Pastor Presbiteriano Valdinei Moraes da Silva,  que  atualmente  está efetivo na II Igreja Presbiteriana do Jardim Bela Vista,  em Passos, garante que o entendimento sobre o amor no universo filosófico é bem diversificado. “Alguns filósofos apresentam uma concepção positiva, outros uma concepção não tão positiva.  Immanuel Kant, por exemplo,  tem uma visão do amor um pouco fria, apenas como reflexo da nossa condição como seres biológicos. Enquanto Schopenhauer tem uma visão diferente, ele diz que o amor é fundamental para o ser humano,  porém  entende a experiência com o amor como sendo algo destrutivo no sentido de sofrimento dilacerante”.

        Valdinei cita que a linha de pensamento que ele mais aprecia é a que trata o  amor como um sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função deste sentimento é levar o ser humano à perfeição. Em seus estudos sobre o amor, o pastor conta que teve conhecimento de uma experiência voltada para análise do comportamento humano,  realizada nos Estados Unidos, onde  cientistas selecionaram vários casais,  separando marido e mulher em salas diferentes. “Eles instalaram dispositivos que davam choques nas esposas. Já os esposos tinham alguns dispositivos na cabeça para monitorar a atividade cerebral e seriam informados por meio de sinal luminoso  o momento exato em que as esposas levariam choque”, contou.

        Segundo Valdinei, a pesquisa mostrou que toda vez que o choque era dado na esposa, os dispositivos na cabeça dos esposos mostravam  atividade cerebral no campo responsável pela dor. “Mesmo não estando recebendo os choques elétricos, os maridos conseguiam sentir o desconforto de um choque que não estava sendo dado a eles, mas nas esposas. Com essa pesquisa, os cientistas conseguiram comprovar que o amor é a principal via de conexão  entre as pessoas”, pontuou.

 

NUTRIÇÃO

                                                                                        Crédito: Arquivo Pessoal


                       A nutricionista Ana Paula  faz relações entre o amor e a alimentação


        Para Ana Paula Leme de Souza,  nutricionista, mestra e doutoranda em Ciências pela Universidade de São Paulo - USP Ribeirão Preto, é possível também estabelecer uma relação entre amor e o ato de comer. Segundo ela, o modo como os seres humanos se relacionam com a comida é muito semelhante  como se relacionam com as outras áreas na vida, inclusive, a área sentimental.  

        “Quando estamos apaixonados ficamos mais motivados,  mais impulsivos e isso pode refletir no nosso comportamento com a comida. Pode ser que eu me sinta mais motivada a me alimentar melhor por conta dessa paixão, dessa área da minha vida que está sendo estimulada, isso pode melhorar a autoestima e pode repercutir nas minhas escolhas alimentares”, comenta.

        Por outro lado, pode ser que sentimentos como o amor, a paixão, despertem também o lado mais impulsivo do indivíduo. “A paixão pode também desencadear comportamentos de agir por impulso, isso pode repercutir na alimentação.  Pode ser que eu fique mais impulsiva para comer coisas que despertem a sensação de bem-estar. Os alimentos que despertam essas sensações são mais os doces, açúcar tudo aquilo que o nosso cérebro gosta, que dá energia”, alertou.


BIOLOGIA


                                                                                                                              Foto: Arquivo Pessoal


Vânia Rose atua como professora de Biologia na cidade de Passos

        Conforme a professora Vânia Rose dos Santos, formada em Ciências Biológicas, o amor analisado pela ótica docente pode ser compreendido como ato de  doação e de entrega por parte dos mestres. “Não somos recompensados como deveríamos por tudo o que a gente faz e mesmo assim nós fazemos. A nossa relação com os alunos é uma relação que cresce no amor à medida que vamos conhecendo cada um deles. Cada forma nova de trabalho que adotamos, cada problema que temos que superar para que eles cresçam, tudo isso soma para a construção do amor que vem da necessidade que o aluno tem de aprender, de se superar, de se  desenvolver, e nossa entrega para isso é total”.

        Já quando a professora analisa o amor pela ótica da Ciência e, principalmente, pela ótica da Biologia, destaca que o sentimento é entendido como uma construção. “A natureza tem suas leis e essas leis são seguidas à risca por ela. Quando eu obedeço essas leis, quando eu me entrego a essas leis, eu acabo construindo o amor. Já quando eu magoo, quando eu saio dos trilhos para com as leis naturais, eu descontruo o amor,  eu destruo alguma coisa", concluiu. 

 

  QUÍMICA

                                                                                     Foto: Arquivo Pessoal


Renato Saldanha Bastos é professor de Química no IFSuldeminas

        E aí, rolou a química?  Essa é uma pergunta muito comum feita aos casais de namorados  no início do relacionamento, na fase em que eles estão se conhecendo. Para tratar da parte 'química' do amor, consultamos o professor Renato Saldanha Bastos, Doutor em Química Orgânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e docente em atuação no Instituto Federal Sul de Minas de Três Corações/MG.

        De antemão, Renato inicia  sua fala com um questionamento:  "A química sendo a ciência que estuda as transformações da matéria e considerando que o amor transforma as pessoas, seria então esse sentimento química pura", pergunta ele. Imediatamente o professor  devolve a resposta, ancorando-se nas teorias da área científica que escolheu para dedicar-se profissionalmente.  "Muitas das  sensações quando estamos amando são reações químicas", garante. "As sensações dos seres humanos são mediadas por neurotransmissores. Os neurotransmissores são substâncias químicas, chamadas de moléculas, capazes de transmitir informações entre neurônios através da fenda sináptica". 

        O docente explica ainda que alguns neurotransmissores são bastante conhecidos como a serotonina e a adrenalina. A primeira está ligada diretamente à emoção e aos nossos humores, já a adrenalina, além de ser um hormônio,  promove a elevação da frequência cardíaca em situações de ansiedade. "Dito isto, vemos que muitas das nossas sensações quando estamos amando são reações químicas. Quando estamos perto da pessoa querida,  nossa emoção é boa e ficamos mais bem-humorados (serotonina) . Já quando ela está quase para chegar, o coração acelera (adrenalina)", complementa.

     Conforme Renato,  há ainda um outro neurotransmissor importante ligado às lembranças, que é a acetilcolina. Pessoas que sofrem de Alzheimer têm como um dos seus efeitos a redução deste neurotransmissor no sistema nervoso central. E muitas vezes, ao final da jornada da vida,  se esquecem de seus amados. "Neste caso fica então para nós uma grande lição. Como cantava Renato Russo, é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. A química agradece", finaliza.


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